Após trabalhar neste blog durante todo o semestre o tema de Vigilância, Controle e Monitoramento, decidimos utilizá-lo para elaboração do artigo de conclusão da disciplina Comunicação e Tecnologia.
Dentro este tema, focaremos especificamente na passagem de um tipo de vigilância panóptica, como definida por Foucault, para uma vigilância distribuída, como propõe Fernanda Bruno. Para entendê-la e buscar confirmar tal passagem, analisaremos duas ferramentas que se utilizam de geolocalização: Google Latitude e Foursquare. Nelas, o usuário não é forçado a estar confinado e com pouca mobilidade, como funciona na vigilância panóptica. Pelo contrário. Na verdade, o ato de se mover pelo espaço urbano é fator determinante para o funcionamento dos serviços, além de permitir que os usuários, voluntariamente, divulguem informações de localização. Ou seja, as pessoas abdicam um pouco de sua privacidade, permitindo uma espécie de monitoramento não forçado.
Esquematizando o artigo:
Inicialmente trataremos da questão da evolução da técnica, demonstrando, a partir de textos trabalhados na disciplina (em Flusser, Lévy, Lemos e Ellul), que compreender tal evolução é importante para discutir o processo de constituição da técnica atual, relacionando-a com a cibercultura.
A partir dai podemos entender a constituição de uma computação ubíqua e pervasiva. E, com ela, pode-se observar a evolução de "computador pessoal", para "computador coletivo" e, em seguida, "computador coletivo móvel" (Lemos). Dessa forma, enfim, chegamos aos dispositivos móveis, em especial os celulares e smartphones, que chamaremos de DHMCM: dispositivos híbridos móveis de conexão multirede (Lemos).
Desse ponto, partiremos para a relação desse tipo de dispositivo com o espaço urbano, permitindo maior mobilidade física e informacional. Entende-se, então, que as redes na verdade aumentam a importância da localização, num processo, inclusive, de espacialização da informação (Weissberg). Tal relação lugar/internet/informação gera, segundo Weissberg, um híbrido território/rede comunicacional. Seria o que André Lemos chama de "território informacional" ("Áreas de controle do fluxo informacional digital em uma zona de intersecção entre o ciberespaço e o espaço urbano". Então não há, de forma alguma, uma perda da noção do local. Na verdade, ele é ainda mais valorizado - entendendo o conceito de local como "uma forma social que constitui um nível de integração das ações e dos atores, dos grupos e das trocas" (Alain Bourdin); ou seja, o local como importância nas relações sociais.
Entendendo as tecnologias móveis, associadas a conexões em rede, como instrumentos de valorização do local e da mobilidade, pode-se discutir como elas permitem funcionar de forma a cooperar com uma vigilância distribuída. Assim, ao invés de entendermos a vigilância como algo que cerceia a liberdade e restringe o movimento do indivíduo, devemos perceber que a mobilidade física e informacional torna-se importante justamente para manter mecanismos de vigilância e controle. No Google Latitude e no Foursquare, por exemplo, a divulgação voluntária de dados de geolocalização são fundamentais para manter tais redes sociais em funcionamento.
O panóptico de Bentham, junto com o processo da sociedade disciplinar desenvolvido por Foucault, não funcionam para analisar formas vigilância geradas a partir da utilização das novas tecnologias. Por isso, partimos do princípio da vigilância distribuída, que permite livre circulação de pessoas e informações. Não significa, claro, que houve diminuição do controle e do monitoramento.